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Alem do museu: inserindo os debates sobre restituição num contexto pós-colonial
Nesta “era da restituição” (Rassool 2018), o número de projetos acadêmicos e artísticos abordar a reorganização de coleções antropológicas, conduzindo pesquisas de proveniência e a criação de bases de dados do património cultural cresceu exponencialmente. No entanto, os efeitos contínuos da “colonialidade do poder” (Quijano 2000) moldam frequentemente as formas como tais projetos são concebidos e realizados. Financiamento, acesso, educação e editoras privilegiam o ‘Norte Global’ (ver também Moiloa 2022). Isto tem um impacto sobre os fundamentos epistêmicos e ontológicos e os objetivos de projetos que trabalham para a restituição do conhecimento e do património cultural. Este painel incentiva contribuições que avaliem essas questões a partir de uma perspectiva africana.
O legado colonial do museu antropológico no continente é duplo: como meio de controle e governança (Rassool 2015) e como meio de tutela cultural [cultural guardianship] (Van Beurden 2015). Por um lado, o museu funcionou como um laboratório científico, ao serviço da administração colonial fornecendo conhecimento usado para controlar. Simultaneamente, ele extraiu conhecimento das comunidades locais, alegadamente para salvar a autenticidade africana da modernidade colonial. Como tal, os museus têm sido chamados de “arquivos públicos” de um “sistema de apropriação e alienação” (Sarr/Savoy 2018, 2). A interpretação desses arquivos foi em grande parte moldada por interesses políticos e económicos, especificamente do antigo poder colonial (Nii Kwate Owoo 1970). Estas narrativas coloniais não foram desmanteladas pelas independências ou pelos modernos Estados-nação africanos. Pelo contrário, regimes disciplinares continuam a entravar o trabalho de reinterpretação e reintegração de diferentes sistemas de conhecimento (Hamilton e Leibhammer 2017). Embora desafiado, o museu mantém o seu lugar como instituição colonial moderna (Verran 2021).
Este painel incentiva contribuições que discutam maneiras pelas quais os actuais esforços de restituição podem ser transformados com vista a ajudar a superar a colonialidade dos fundamentos epistêmicos e ontológicos do museu moderno. Como a educação e exposições baseadas nas práticas da comunidade abriram novas maneiras de envolver os artefatos e a sociedade que vão além da noção de co-curadoria, mas são transformadoras do museu como lugar de conhecimento? Que novas narrativas seremos capazes de criar quando reintegrarmos esta cultura material perdida em práticas sociais e culturais que reflectem não os gabinetes de curiosidades e as exposições mundiais, mas os Nkisis de família do Congo e as práticas Griot da África Ocidental e não o complexo expositivo moderno (Bennett 1995)? Como podem os debates em torno das colecções antropológicas ser moldados de forma a ligá-las às lutas sociais mais amplas na pós-colónia?
Convidamos tanto estudos de caso que trabalhem projetos concluídos ou em andamento e restituições bem como artigos que propõem novas formas de engajar a restituição de conhecimento e do património cultural.
restituição, África, museus, sociedade pós-colonial, memória colectiva