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A AMIZADE COMO UMA PROPOSIÇÃO FEMINISTA: NOVAS LEITURAS APLICADAS À ANTROPOLOGIA DO GÊNERO, PARENTESCO E AFETOS
Neste painel, são bem-vindas reflexões sobre a amizade como proposta feminista e campo de pesquisa antropológica, como forma alternativa de perceber as relações sociais e de parentesco, rompendo com abordagens mais tradicionais de aspectos fundamentais da vida, como cuidado, apoio mútuo e ativismo, mas também como fonte de prazer e diversão. Nas ciências sociais, a amizade tem sido menos estudada do que outros vínculos interpessoais (relações de casal, afetivo-sexuais ou materno-filiais). Entre os trabalhos (em espanhol) que inicialmente se concentraram na amizade, uma autora de referência obrigatória é Josepa Cucó, que revisou os estudos antropológicos sobre amizade em seu livro La Amistad. Perspectiva antropológica (1995). Ela identificou alguns elementos distintivos dos laços de amizade, tais como: é um vínculo voluntário e duradouro entre indivíduos ou grupos; é ritualizado; e é reforçado ou expresso em um sistema de obrigações recíprocas e de confiança (1995: 34). Em outro livro clássico, The Anthropology of Friendship (Sandra Bell e Simon Coleman, 1999), temos uma análise dos pressupostos básicos da amizade a partir de uma perspectiva intercultural e comparativa que questiona as características da noção ocidental de amizade. Como aponta Beatrice Gusmano, nos últimos anos a amizade se tornou "um assunto legítimo de análise sociológica" (2018: 91) e testemunhamos um aumento na pesquisa sobre amizade, especialmente em estudos feministas e LGBTI. De acordo com Bell e Coleman (1999), esse aumento se deve às mudanças no papel da amizade e as transformações da intimidade no contexto social e político da globalização; particularmente a reflexão de coletivos feministas e LGBTI sobre formas de vida coletiva como alternativa ao modelo tradicional da família como único refúgio de reconhecimento e apoio. Convidamos estudos que elucidem o papel da amizade em redes e relacionamentos sociais dinâmicos, nos quais ela adquire uma dimensão especificamente política ou afetiva, nos quais, por meio da amizade, as fronteiras e hierarquias de gênero, origem, parentesco, sexualidade e a produção de conhecimento são deslocadas e desafiadas. São particularmente bem-vindas as contribuições que enfocam as experiências e estratégias de (re)subjetivação e resistência de coletivos sociais (mulheres, pessoas LGBTI+, migrantes...) que estão redefinindo as noções clássicas de família, afeto e reciprocidade e colocando em prática formas alternativas de conceituar a amizade e o parentesco, à medida que contestam o déficit de reconhecimento social e político.
AMIZADE, FEMINISMO, POLÍTICA, AFETO, RECIPROCIDADE