Este artigo aborda alguns sentidos atribuídos a corpos negros brasileiros, que ressignificam conceitos antes excludentes. São corpos historicamente vitimizados. Denomino aqui corporeidade negra, a própria existência de negros no Brasil. Parto do pressuposto de que, através da cultura afro-brasileira o corpo negro encontra, nas artes cênicas afrocentradas, possibilidades de transformação artística, sociocultural e política. Considero como mote fundamental para estas experiências o convívio familiar e as práticas religiosas presentes no interior das manifestações de matriz africana e nas próprias convivências familiar e afetiva. No processo de categorização de grupos étnico-raciais, a materialidade do corpo negro recebe uma leitura cultural própria que no caso dos negros brasileiros se traduz em “Artvismo”. Essa leitura cultural é atravessada pela forma como estas relações são construídas no Brasil. Os contextos marcados pela escravidão, pelo racismo, pelo mito da democracia racial e pela desigualdade social dão munição para uma verdadeira ressignificação social. Este mesmo corpo que é marcado por uma história de luta e transgressão, busca uma identidade advinda dos fazeres artísticos, religiosos e políticos dos próprios negros brasileiros. Esses fatores estão presentes na sociedade brasileira quando estes corpos negros lidam, interagem e vivenciam uma ressignificação identitária diária. Por isso, a cor da pele pode ser vista como fator primordial para se compreender como o negro se vê e é visto pelos outros. Portanto, não se pode pensar a corporeidade negra e as artes cênicas dissociadas desses fatores. Os corpos negros marcados por valores, crenças, leis e sentimentos se encontram nas Congadas, no Candomblé, na Umbanda, na Dança Afro, no Teatro, nas Artes Plásticas, nas artes visuais e no interior das famílias negras brasileiras. São elementos que formam um modo de viver de uma parcela significativa da sociedade nacional e compõem, assim, a temática eleita neste capítulo, ou seja, as arts cênicas.